Muito “chef” e pouca comida – Nossa opinião sobre a chefmania e o cozinhar

Muito “chef” e pouca comida – Nossa opinião sobre a chefmania e o cozinhar
Todo mundo nota que estamos vivendo um boom da culinária.
Uma overdose de programas, livros, projetos (como o meu, por sinal lançado há 2 anos), eventos que navegam por mares gostosos da gastronomia.
Poderia, e deveria, ter uma beleza nisso, afinal de alguma forma todos eles ajudam as pessoas a voltar a se relacionar com a comida e o bom comer.
Ou deveriam.
Poderia, sim, estar sendo legal. Mas passou do ponto.
Não pela overdose, afinal cada um consome o que quer e boas causas sempre têm espaço, mas pela razão de existir e consequências de cada manifestação.
Nitidamente, é uma onda sendo surfada.
Onde famosos (ou sub-celebridades) afastados dos holofotes, vêem na culinária um atalho para colocar a bunda na janela.
Quase como se o Big Brother invadisse a cozinha.
Onde a cultura da selfie, do eu, da carência coletiva, invade a cozinha com a desculpa de cozinhar, mas no fundo é apenas um “me olha, me dá carinho”.
É a mina ou o mano que posta foto pra mostrar o corpinho e põe a frase da Clarice ou Mário Quintana pra parecer intelectual.
A glamourização, espetacularização ou o termo que cada um preferir espalha a gastronomia pela razão errada.
Pessoas e mais pessoas que estão nessa onda nunca gostaram de cozinhar e, provavelmente, nunca vão gostar. Não cozinham, não irão cozinhar depois.
Quando a moda for novamente ser DJ (ou gamer, artista, ativista, skatista, qualquer ista) elas vão em debandada aonde a banca tocar.
A culinária é um hospedeiro, e só.
O comer está abandonado.
A comida e o alimento, razão de existir de tudo isso, está ali coadjuvante.
Tem mais views no youtube que batatas sendo cozidas nos fogões da vida.
Horas e horas de consumo de conteúdo e nenhum minuto experimentando a sensação gostosa de cozinhar, do lado primitivo ao prazer das consequências.
A comida, sim, que deveria estar carente.
Carente de gente que pegue ela no colo, na mão.
Que continue evoluindo o assunto, afinal, nada mais evolutivo que entender e transformar a relação do ser humano com o alimento.
Sobrevivência, personalidade, cultura, saúde, sustentabilidade.
Gourmet é só bom, e não artifício de marketing para promover produtos ou aumentar preço, valor. Um fim aos brigadeiros gourmet e seus primos.
Historinhas, nomezinhos bonitos, voltinhas pra dizer a mesma coisa.
Chega de tanta frescura.
Culinária é sobre outra coisa. O mundo não é um Masterchef.
Já estamos cansados da vida cotidiana ser cheia de pressões, de competições, de falta de tempo, de cobranças, de gente nos cortando o barato.
Cozinhar não é isso. Não deveria ser.
Um grande coliseu romano, que por acaso, tem no meio um frango para assar.
Cito Masterchef só pra exemplificar, pois tenho profunda repulsa.
Pão e circo, onde o pão nem brilha mais.
Vai contra tudo que acredito que deva ser a relação do homem com a comida: individual, tensa, competitiva, rápida, estressante, desumana.
Me sinto extremamente chateado de ter “CHEF” no nome do meu projeto.
Sabe quando uma coisa te tira o sono?
O que era pra ser uma inspiração para todos invadir a cozinha e simplesmente cozinhar, virou uma banalização do gourmet, da profissão, de tudo.
Vende-se tudo, menos o cozinhar.
Promove-se tudo, menos o comer.
Inspira-se a tudo, menos a abraçar o alimento e lembrar que isso faz da gente, gente.
Chega. Basta.
No que depender do meu projeto, que por enquanto se chama SeVira”Chef” (argggh), vamos voltar a curtir a origem da coisa: o alimento, a comida, o comer.
O resto é pra dar audiência.
A gente adora comer.
A gente sempre adorou comer.
E, a boa notícia, a gente vai continuar adorando comer.
Meu convite é simples:
Mais trucks, jantares, restaurantes, gente, projetos e coisas interessadas em promover o que importa: comida, comer.
Menos “chef’s”, mais comida.

Photo via VisualHunt.com

1 Comentários

Comentar
  1. 1
    mi

    Olha entendo o seu ponto de vista. Admirei e me inspirei por muito tempo os realitys gastronômicos mas percebi que o alimento merece respeito e recebe toda aquela energia que transmitimos desde qndo escolhemos, tratamos e preparamos. Um alimento preparado com amor eh muito melhor digerido pode ser um tradicional omelete mas vai saciar como um estrogonofe e suas especiarias. Gosto de receber paz e transmitir paz ao comer e ao fazer o alimento. Teve vezes de eu me sentir num master desses da vida onde eu teria que me virar com o que tinha (eh eram poucas as opcoes) pra preparar uma janta no fim do mês para meu marido e minha filha de cinco anos e me virar com o elemento surpresa rs.
    Não sou formada mas Manjo muito de comida e represento bem para quem eu alimento.
    Sucesso!
    Michele Sts Lpz

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